terça-feira, 4 de setembro de 2012

Cotas nas universidades: fácil, prático e enganoso.



Em meio a uma discussão, as opiniões divergem e convergem de acordo com: conceitos, vantagens, interesses e etc. No mês de agosto, a presidente Dilma sancionou uma lei que gerou muita polêmica e opiniões. A lei de cotas foi aprovada e terá 4 anos para ser posta em vigor pelas universidades e instituições federais.

Primeiro cabe salientar que a lei é totalmente legítima, ou seja, não há nenhuma ilegalidade perante a constituição federal, mesmo isso sendo óbvio - já que a lei foi sancionada. Algumas pessoas alegavam que a lei feria um artigo da constituição que não permite a diferenciação da sociedade brasileira por raça, cor ou etnia. Por decisão unânime, os ministros do supremo decidiram que a política de cotas é uma forma de combater os conceitos que se perpetuam da era escravagista brasileira.

A ideia da lei surgiu em ações parecidas que o governo dos EUA fez em seu território. Porém os mandatários brasileiros esqueceram da diferença enorme de miscigenação entre os países. Não vamos comparar as nações, já que as realidades são bem distintas, mas o Brasil tem uma variedade maior de etnias, raças e cores, se comparado com os Estados Unidos. 

Então vamos entender: teremos cotas para negros, pardos e índios, sendo que a miscigenação brasileira é alta e a determinação da cor e da raça será por autodeclaração de cada candidato? Hoje, segundo dados do IBGE, a quantidade de negros autodeclarados diminui continuamente. Veremos se o fato se repetirá na inscrição ao SISU. É pessimismo ver as coisas dessa maneira, mas com a repetição de golpes pelo país é instintivo pensar que algumas pessoas mudarão de opinião com relação a sua cor e raça para obterem vantagem.

Mas esse não é o maior dos problemas. As cotas são de 50% das vagas, isso quer dizer que a outra metade será dedicada para a disputa entre a ampla maioria, que inclui brancos, estudantes de escolas privadas e pessoas com renda maior de 1,5 salário mínimo per capta. Nos 50% de cotas, 25% será obrigatoriamente reservado para as pessoas que se encaixam no quesito baixa renda - nas cotas, todas as vagas ocupadas serão por estudantes provenientes do ensino público. Caso não haja candidatos suficientes para preencher a cota racial, as vagas remanescentes serão disputadas pelos candidatos que não se encaixam no critério de cor e raça, mas, obviamente, são oriundos de escolas públicas, ou seja, "os brancos" do ensino público (convenhamos, qual a probabilidade de isso acontecer?).

A lei de cotas surge como uma bomba num sistema de educação que por si só já é confuso, enfraquecido e certas vezes repugnante. Se há uma pequena quantidade de negros e índios nas universidades isso não acontece em decorrência de épocas segregadoras como as do século XIX. As universidades apenas refletem um problema da base da pirâmide social brasileira. A má distribuição de renda afeta tanto aos brancos quanto aos negros, mas aí sim, nas condições de aceitação no dia a dia, de bons empregos, qualidade de vida, talvez nesses pontos haja um reflexo de tempos escravocratas. O processo de seleção das universidades é totalmente imune a possíveis preconceitos. Não há entrevistas, não há escolhas de candidato por condições financeiras, por facilidade de comunicação, por cor. Então não está aí o problema, mas sim lá no início, quando as pessoas de baixa renda pegam 2 ônibus para levarem seus filhos a escola. Escola essa que não tem professores, que não tem material, que não tem condições mínimas para se aprender. Se há alguma coisa no mundo que não pode ser atingido pela discriminação racial, é a educação. As portas das escolas estão abertas para todos e todas que tiverem interesse em aprender, mas para isso elas precisam ter o mínimo de condições de chegar a escola e nela interagir, seja branco ou negro.

O que deve ser feito para melhorar o quadro da educação brasileira está escancarado, tanto que temos o discurso na ponta da língua. Os professores são peças fundamentais no processo de formação de cada criança, adolescente ou adulto. Um salário decente e o preparo para lecionar são muito mais emergenciais do que reservar vagas nas universidades. Se as escolas públicas de ensino infantil e fundamental tiverem boas condições - desde professores qualificados e bem remunerados até infraestrutura - as cotas não serão necessárias. O que devemos buscar é oferecer condições mínimas de igualdade no ensino para todos. Com certeza é um objetivo mais distante e difícil de ser conquistado a curto prazo, mas não é utópico. O que estão fazendo com essa lei é tapar o sol com a peneira, o famoso "jeitinho brasileiro" para agradar a todos. Espelhados na "política do pão e circo" do Império Romano, o governo dá ao povo aquilo que querem, assim fazem com que os mesmos sintam-se satisfeitos e não reclamem de seus mandatos.

Cotas, apesar de bem intencionadas, servem para amenizar a fraca qualidade de ensino básico e não para mudar conceitos escravagistas de dois séculos atrás.


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Hey, nós estamos aqui!

    Em meio ao grande número de greves, paralisações, operações e etc. alguma coisa foi esquecida. Um pequeno detalhe, mas que deveria ser o divisor de águas nessa questão. Como estudante universitário, vou me deter a paralisação dos professores que assola milhares de estudantes em dezenas de universidades pelo Brasil. As propostas já foram postas na mesa, o que se vê agora é um jogo de interesses onde depois de mais de 100 dias de greve ninguém quer dar o braço a torcer. Professores x Governo. De um lado uma classe que é composta em sua grande maioria por doutores e mestres, do outro um governo seguidamente atacado pela oposição e que se vê numa "sinuca de bico". Um pouco mais abaixo hierarquicamente: os alunos - rebeldes, porém esnobados. 
   Muitas coisas são ditas sobre o assunto, mas poucas são verdadeiras ou definitivas. A greve supostamente teria acabado umas 29348 vezes. Nesse vai e vem de informações o querer de cada um dos universitários está de lado.
    Eu sei que os professores estudaram muito para chegar na condição que estão e tem por direito receber um salário a altura. Eu sei que esses mesmos professores estão cobrando por algo que havia sido prometido em campanha política. Eu também sei que, infelizmente, uma das únicas maneiras eficientes de se cobrar por melhoras nesse país é por meio de greves. Sei, por outro lado, que o governo trabalha com um orçamento prévio e em meio de crises econômicas não pode pagar o que não tem. Até porque as greves se sucedem em vários setores e se forem acrescentados de 30 a 40% nos salários de cada servidor público o orçamento explode, e, aí sim, ninguém vai gostar.
   Mas e os alunos? E os universitários que estão em processo de conclusão de curso? Ninguém lembra deles, mas são a maioria, mesmo sem parecer. A inclusão do ENEM como processo seletivo no território nacional, possibilitou que estudantes de qualquer cidade do Brasil tenham acesso a universidades federais, porém essa situação de greve dá uma tremenda dor de cabeça para qualquer um. Como farão com relação aos seus alojamentos que vencem no final do ano? Parece ser um problema ínfimo perto da grandeza da situação, mas é de suma importância quando tu és o prejudicado. E esse é apenas um dos problemas.
   Os alunos, agora, não sabem seu calendário, não sabem quando devem voltar para reiniciar as aulas, não sabem quando estarão em férias, não podem planejar o seu futuro a curto prazo porque não sabem qual será sua situação até o final do ano. Aliás, o ano do universitário está sem previsão de fim.
   Então, no final, os professores estarão com seus novos salários, o governo terá agradado a classe e estará despreocupado porque pagará o que lhe é permitido. Já os universitários estarão estudando em véspera de natal e ano novo, estarão com aulas aceleradas quando deveriam estar descansando para começar o ano letivo de 2013. 
   Temos os diretórios para cuidarem de nossos direitos, mas não acredito que farão muita coisa a ponto de melhorarem nossa situação atual de total submissão aos interesses alheios. Até porque muitas vezes eles também entram nesse jogo político. Não porque querem, mas sim porque somente através da política é possível conseguir o que queremos. Entretanto, numa escala de importância, parecemos estar no segundo plano.

HEY, NÓS ESTAMOS AQUI!